Jiddu Krishnamurti
O “Instrutor do Mundo”…
Em 1909 Charles Leadbeater, proeminente membro da Sociedade Teosófica1, em viagem pela Índia, durante uma visita a um templo na cidade de Madanapalle, conheceu Jiddu Krishnamurti (1895-1986) então com 14 anos. Leadbeater e outros membros da Sociedade Teosófica acreditaram que Krishnamurti era uma criança especial, o “Instrutor do Mundo” ou o “Maitreya”2, uma figura messiânica prometida nos escritos e crenças teosóficas.
Essa crença foi baseada na ideia de que ele poderia desempenhar um papel crucial na transformação espiritual da humanidade. A partir dessa descoberta, Krishnamurti foi levado para a Europa e passou a ser educado e preparado pela Sociedade Teosófica, que investiu recursos significativos na sua educação e na construção de sua imagem como um futuro líder espiritual. Apesar de toda a atenção e preparação, Krishnamurti nunca se conformou com o papel que esperavam dele. Em 1929 tomou a decisão marcante de dissolver a Ordem da Estrela do Oriente3, organização criada para prepará-lo como Instrutor do Mundo. Em um discurso famoso4, ele afirmou:
“Não há um mestre externo. A verdade não pode ser dada por outro. A verdade não pode ser transferida. A verdade não pode ser ensinada. Cada um deve descobrir a verdade por si mesmo. […] A grande mentira foi que alguém pode ser a encarnação de um grande mestre, de um grande líder. Eu sou apenas um homem, e todos os homens são iguais. Não há um caminho especial, um caminho separado. Cada um deve trilhar o seu próprio caminho.”
Neste discurso rejeitou a ideia de liderar qualquer movimento ou organização, não aceitando o papel messiânico que lhe reservaram. Após a dissolução da ordem, Krishnamurti seguiu um caminho independente, estabelecendo-se como um pensador e professor que enfatizava a importância da autodescoberta e do entendimento pessoal, sem depender de dogmas ou sistemas externos. No decorrer do século XX Jiddu Krishnamurti tornou-se um influente filósofo e pensador espiritual, conhecido por suas ideias sobre a liberdade, a mente humana e a natureza da verdade, se destacando por seus ensinamentos sobre a importância da auto-observação e da compreensão direta da mente sem depender de doutrinas ou sistemas estabelecidos enfatizando a necessidade de uma transformação interna profunda e pessoal para superar conflitos e encontrar a verdade.
Atualmente a Sociedade Teosófica continua a operar em várias partes do mundo com sedes em diversos países e várias associações nacionais, organizando palestras, estudos e atividades que exploram seus princípios e ensinamentos. Apesar de suas origens e influência no início do século XX terem sido marcadas por figuras como Jiddu Krishnamurti, a Sociedade Teosófica evoluiu ao longo do tempo e continua a ser uma presença ativa no campo do pensamento espiritual e filosófico. Hoje em dia não mais procura uma figura messiânica específica sendo seu foco a promoção de um entendimento mais profundo da espiritualidade e na busca pessoal pela verdade.
1Sociedade Teosófica. Organização espiritual e filosófica fundada em 1875 por Helena Blavatsky, Henry Steel Olcott e William Quan Judge, que busca promover o estudo da verdade universal e da espiritualidade, tendo como um de seus principais objetivos a unificação da ciência, religião e filosofia, bem como a promoção de uma compreensão mais profunda da natureza da vida e da realidade.
2Maitreya. Helena Blavatsky, em seus escritos, mencionou o conceito de um grande instrutor espiritual que viria em um futuro distante para guiar a humanidade, estabelecendo os fundamentos esotéricos para a crença em uma figura messiânica. Será Charles Leadbeater, junto a Annie Besant, que identificam Jiddu Krishnamurti como o possível Maitreya.
3Ordem da Estrela do Oriente. Organização fundada em 1911 pela Sociedade Teosófica, após Charles Leadbeater e Annie Besant identificarem Jiddu Krishnamurti como a pessoa destinada a assumir o papel de Instrutor do Mundo, com o objetivo de prepará-lo como o Maitreya.
4Discurso de Ommen. Discurso proferido em 1929 no teatro de Ommen, Holanda, durante uma reunião da Ordem da Estrela do Oriente, no qual Krishnamurti rejeita o papel de “Instrutor do Mundo” e a própria Ordem da Estrela do Oriente. Foi um dos mais célebres e significativos discursos de sua carreira e contém uma declaração poderosa e direta sobre sua decisão de não aceitar o papel messiânico que lhe foi atribuído.
O Pensamento Espiritualista de Krishnamurti
Jiddu Krishnamurti foi sem dúvida nenhuma um dos maiores pensadores espiritualistas do século XX, e desenvolveu um entendimento crítico sobre religiões oficiais e organizadas. Seu pensamento, profundo e desafiador, reflete seu desejo de promover uma abordagem pessoal e direta da espiritualidade e verdade humanas.
- Crítica à Autoridade Religiosa: Enfatizava a autonomia pessoal, acreditando que as religiões organizadas frequentemente promoviam uma dependência excessiva de “autoridades, dogmas e instituições”. Ele argumentava que essa dependência inibia a verdadeira compreensão espiritual e a liberdade pessoal. Para ele, a verdade não poderia ser encontrada através de autoridades externas, mas sim por meio da autoexploração e da compreensão interna.
- Rejeição de Dogmas e Rituais: Era contrário ao ritualismo e criticava a prática de rituais e cerimônias que, segundo ele, se tornavam meros hábitos sem significado real. Ele via que esses rituais desviavam a atenção da verdadeira compreensão espiritual e da transformação pessoal.
- Desafios às Doutrinas e Crenças: Questionava a validade das doutrinas e crenças estabelecidas, demonstrando todo seu ceticismo e sugerindo que elas frequentemente criavam divisões e conflitos entre diferentes grupos e religiões. Krishnamurti entendia que as doutrinas poderiam se tornar barreiras para a experiência direta e pessoal da verdade.
- Encorajamento da Investigação Pessoal: Em vez de aderir a sistemas religiosos estabelecidos, Krishnamurti incentivava as pessoas a investigar por si mesmas e a descobrir a verdade através da observação, da exploração e do questionamento pessoal. Ele via a busca pela verdade como uma jornada individual e não como algo que pudesse ser transmitido através de instituições ou líderes.
- Busca pela Verdade Pessoal: Enfatizava a importância da verdade individual. Cada indivíduo deve encontrar a verdade por meio de sua própria experiência e percepção, em vez de aceitar verdades preestabelecidas. Acreditava que sendo a verdade pessoal, deve ser descoberta através de um processo de autoquestionamento e autodescoberta.
- Unidade Além das Divisões Religiosas: Profundamente crítico das religiões organizadas, Krishnamurti buscava promover uma compreensão mais ampla e inclusiva da espiritualidade. Ele acreditava que a verdade e a compreensão espiritual transcendiam as divisões religiosas e que todas as tradições deveriam ser vistas como partes de um todo maior.
Em sua abordagem crítica em relação às religiões oficiais, desafiou as estruturas dogmáticas e promoveu uma espiritualidade baseada na autoexploração e na compreensão direta, vendo as religiões organizadas como limitações profundas dos potenciais ao verdadeiro entendimento e a liberdade espiritual.
Se você quiser uma biografia mais específica sobre a vida de Jiddu Krishnamurti, pode acessar a Wikipedia ou baixar o arquivo Jiddu Krishnamurt Biografia Wikipedia